Maturidade, inteligência e talento

Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Brasil e Argentina chegaram em momentos díspares para o aguardado clássico dessa quinta, no Mineirão. Entretanto, os diversos fatores que envolviam o confronto - desde o próprio palco da disputa até a qualidade individual dos argentinos liderados por Messi - tornaram grande o desafio para a incipiente, embora muito bem estruturada, seleção de Tite. Dessa forma, a maturidade e inteligência do escrete canarinho para, como o próprio treinador citou, "saber sofrer" e se adaptar ao contexto que a partida apresentou foi primordial para a excelente vitória brasileira.

O início do jogo apresentou um cenário desconfortável para a seleção brasileira. Com o já amarelado Fernandinho tendo dificuldades em limitar as ações de Messi e a Argentina lateralizando bastante - especialmente no lado direito, onde obtinha superioridade numérica -, o reajuste só veio após Alisson fazer grande defesa em chute de Biglia. Exitosamente, Tite alterou os posicionamentos de Renato Augusto e Paulinho, colocando este próximo à principal área de ação de Messi, de modo a proteger Fernandinho. Entrementes, a seleção brasileira não teve receio de aderir ao jogo reativo, atuando na maior parte do tempo com linhas baixas, embora extremamente próximas.

Brasil compactado defensivamente, com linhas baixas e proximas. Créditos: Leonardo Miranda/Blog Painel Tático

Essas adaptações fizeram com que o Brasil mantivesse o jogo controlado, principalmente tendo em vista o pouco repertório da seleção de Bauza em fase ofensiva. Na primeira vez em que o escrete tupiniquim conseguiu rodar bem a bola, Coutinho saiu da direita, seu setor de origem, fazendo um ótimo movimento entrelinhas, recebendo de Neymar, cortando para dentro e chutando no ângulo, sem chances para Romero. Gol à feição do Liverpool de Jürgen Klopp, onde a movimentação interna de Coutinho, que faz temporada excepcional até aqui, é o cerne do jogo de posição do atual líder da Premier League.

O tento abateu a seleção argentina que, envolta em uma crise sem precedentes na AFA, tem encontrado muitas dificuldades no ínicio do trabalho de Bauza. Mesmo com a posse de bola, novamente faltou à albiceleste profundidade, bem como uma participação mais intensa do apagado Di María. A única boa trama dos argentinos veio quando Gabriel Jesus não acompanhou Más até o fim, permitindo que o lateral cruzasse com perigo. Afora isso, o Brasil soube explorar o talento e a verticalidade de seu trio ofensivo. Primeiro, Neymar puxou contra-ataque em alta velocidade e acertou a trave de Romero. Depois, o atacante do Barcelona arrancou, recebeu em profundidade após jogada fenomenal de Jesus e tocou na saída do goleiro argentino. 2 a 0 já no intervalo e vitória bem encaminhada para a seleção brasileira.

Na volta para a segunda etapa, Bauza procurou dar mais profundidade à sua equipe com a entrada de Agüero no lugar de Perez. Contudo, a mexida acabou por favorecer a seleção brasileira, uma vez que, além de a Argentina perder circulação de bola no meio-campo, a desocupação do lado direito deixou Marcelo menos sobrecarregado e permitiu ao lateral ter maior participação ofensiva. O terceiro gol dos donos da casa surgiu assim. Após cruzamento forte do camisa 16 brasileiro, Renato Augusto, de mais uma boa participação, centralizou para Paulinho que, como acontece com enorme frequência, apareceu na área para finalizar.

O desencaixe coletivo da Argentina era tão grande que o Brasil teve, no mínimo, outras três ótimas oportunidades de marcar ao longo do 45 minutos finais. A partida estava ao feitio dos comandados de Tite, que, embora gostem de construir seu jogo a partir da posse de bola, têm imenso potencial para jogar reativamente.

No fim, a quinta vitória de Tite na seleção brasileira é a mais emblemática até aqui não apenas por se tratar de um clássico contra uma Argentina de grande potencial individual, mas também por apresentar um Brasil consciente, que soube se adaptar ao complicado início de partida no Mineirão. O enorme talento brasileiro agora é acrescido de maturidade e inteligência, duas das principais virtudes de seu treinador, e é por meio desses aspectos que se constrói uma seleção cada vez mais forte.

Comentários

  1. Na minha "modesta" observação percebi também que no início o Brasil deixou a Argentina propor o jogo, e aos poucos fomos entendendo como explorar nosso potencial diante do que eles apresentaram. Finalmente temos um time "inteligente". Vida longa e próspera ao Tite!.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

"Gegenpressing" - Um dos principais conceitos do futebol moderno

"A Pirâmide Invertida", de Jonathan Wilson

As variações de Tite