Um turbilhão de incompetências

Foto: André Ávila/Agência RBS
Em 2016, nenhuma equipe do futebol brasileiro teve planejamento tão falho quanto o Internacional. Clube com a maior legião de sócios e uma das maiores receitas do país, o colorado se arrastou durante todo o 2º semestre contra o rebaixamento à Série B, que agora bate com força na porta do Beira-Rio. Esse contexto, naturalmente, não surgiu do acaso: é, em especial, resultado da péssima gestão de futebol do presidente Vitório Piffero e de seus subalternos.

O início de temporada com Argel Fucks, ainda que respaldado nos bons números do atual técnico do Vitória no final de 2015, já foi precipitado. Argel faz o estilo do treinador sanguíneo, que prioriza a transpiração à inspiração. Embora os resultados do primeiro semestre tenham sido satisfatórios - título do Campeonato Gaúcho e temporária liderança do Brasileiro -, o futebol cobra mais à longo prazo. Nesse sentido, o treinador apresenta muito pouco em questão de modelo de jogo. Em 38 rodadas, é natural que chegue um ponto em que somente entrega não seja suficiente.

Falcão, talvez o técnico com conceitos mais modernos dentre aqueles que ocuparam a casa-mata colorada em 2016, conseguiu fazer muito pouco em 6 jogos. Apesar de existir demérito seu, fica muito difícil trazer à tona qualquer ideal futebolístico em meio a uma sequência de mais de 10 partidas sem vitória. Dessa forma, o Inter recorreu novamente a Celso Roth.

Junto com Roth veio a "SWAT" colorada, liderada por Fernando Carvalho, em tentativa do presidente Vitório Piffero baseada na reedição da dobradinha que ajudou a dar ao Inter a Libertadores de 2010. Entretanto, a atitude foi falha justamente por desconsiderar que o futebol mudou muito nos últimos anos - o sucesso de outrora representa pouco no presente. Roth, aliás, mostrou-se alheio a essas mudanças, como evidenciam, entre outros aspectos, seus longos treinamentos em campo inteiro e seu ceticismo em relação ao Barcelona de Guardiola e seus desdobramentos para o futebol moderno.

Embora tenha conquistado alguns resultados importantes na base da motivação e de relances individuais de seus principais atletas - Vitinho, principalmente -, Roth, tal qual Argel, engendrou seu calvário a partir da ausência de maior conteúdo futebolístico. Em três meses praticamente não houve evolução, e ausência de um time compacto e padronizado degringolou na acentuação da crise, que agora leva o Inter a uma briga ferrenha contra o Vitória pela última vaga do Z-4.

O que mais atesta a incompetência da diretoria colorada é a ausência de uma filosofia de futebol. Não existe linearidade em trocar Argel por Falcão e depois por Roth. São treinadores com ideais diferentes, contratados muito mais para "apagar incêndio" do que para inserir quaisquer conceitos e padrão de jogo na equipe. Essa lógica, que se repete constantemente no futebol brasileiro, pode ser válida em um primeiro momento, mas é muito pouco para um clube com a grandeza do Internacional.

É claro que, faltando três rodadas para o fim do Brasileiro, o Inter pode, com Lisca - seu 4º treinador da temporada -, se safar do iminente rebaixamento. Entretanto, nada apagará a incompetência de seus gestores, que conduziram o colorado a uma temporada vexatória e constrangedora.

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