As variações de Tite


Com a classificação para a Copa do Mundo de 2018 já garantida, o Brasil enfrentou o Equador, na última quinta-feira, na Arena do Grêmio, pela 15ª rodada das Eliminatórias. Embora o técnico Tite tenha ressaltado, na véspera, a cobrança em cima dos jogadores por competitividade e desempenho, a Seleção foi bem menos intensa do que o habitual. Por outro lado, algumas dificuldades na construção ofensiva fizeram o treinador utilizar variações que, funcionando bem, ajudaram o Brasil a construir a vitória por 2 a 0 e, mais do que isso, abriram uma possibilidade interessante para o Mundial do próximo ano.

Enfrentando um Equador que, como previsto, se defendeu bastante com suas duas linhas de 4 e buscou amarrar o jogo sempre que possível, o Brasil apresentou situações que tem sido recorrentes com sua formação inicial. Com Paulinho e, principalmente, Renato Augusto se aproximando dos zagueiros para uma saída de 3 e sem maior profundidade dos laterais, a Seleção acumula muitos jogadores na sua própria intermediária. Contra defesas bem estruturadas, isso chama o adversário para o campo brasileiro e cria poucas linhas de passe entre as linhas do rival. Os primeiros 45 minutos, dessa forma, apresentaram um Brasil com dificuldades para construir desde seu próprio campo. Assim, as principais chances brasileiras no 1º tempo vieram de retomadas de bola após pressão no campo ofensivo, algo que tem funcionado muito bem desde o início da Era Tite.

As dificuldades de construção incomodaram o técnico brasileiro, que por três vezes chamou Renato Augusto à beira do campo para conversar e buscar reajustar a equipe. Cabe aí relevar mais uma vez a importância tática do meio-campista dentro da equipe brasileira, sendo o cerne da maior parte das soluções que Tite busca dentro do jogo. Renato mudou de lado com Paulinho, e o mesmo fizeram, por alguns momentos, Neymar e Willian. Mas o Brasil seguia com dificuldades, e a melhora definitiva só ocorreu na segunda etapa.

Postura mais competitiva à parte, a Seleção Brasileira melhorou, de fato, a partir da entrada de Philippe Coutinho. E não só pela qualidade do jogador do Liverpool - que não foi titular apenas pela novela envolvendo sua não concretizada transferência para o Barcelona -, mas porque o Brasil mudou seu esquema e sua maneira de atacar. Em uma espécie de 4-2-3-1, Tite prendeu Paulinho junto a Casemiro, dando liberdade para Coutinho se aproximar e se movimentar por dentro junto a Neymar, Gabriel Jesus e Willian (depois Luan). Por fora, Daniel Alves e Marcelo passaram a ter uma postura mais ofensiva, dando amplitude e profundidade pelos lados. Com tanta qualidade por dentro e dois laterais que geram um incômodo em qualquer sistema defensivo, o Brasil passou a achar espaços, aproveitando-se também do desgaste do Equador. Os gols de Paulinho e Coutinho foram consequência.

Por mais que Tite tenha suas convicções, ele sabe que precisa buscar variações para a Copa da Rússia. O bom funcionamento da equipe que terminou a partida na Arena do Grêmio lhe deu uma opção interessante, bastante útil contra equipes fechadas, e que pede sequência. Não seria surpresa, portanto, ver Coutinho no lugar de Renato já na partida contra a Colômbia, na próxima terça, em Baranquilla. Se não deve testar formações mais radicais, como uma linha defensiva de 5, Tite vai dando afirmação a um modelo que, dentro do estilo do treinador, tem tudo para ser decisivo em 2018.

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