Vertical, mas pouco controlador


O Real Madrid de Zinedine Zidane, que em janeiro completará um ano no comando técnico dos merengues, nunca teve uma identidade futebolística bem definida. Na verdade, foi por meio da adaptabilidade e da qualidade individual de seus atletas que "Zizou" conduziu o Real à conquista da undécima, em acirrada final contra o rival Atlético de Madrid. A primeira metade da temporada 2016/2017, da mesma forma, tem apresentado uma equipe que, embora invicta em todas competições que disputa, carece de um sistema de jogo mais complexo, que o permita sofrer menos durante as partidas.

O último jogo dos merengues - contra o Sporting, em Lisboa, pela Champions League - deixou isso claro. Na primeira etapa, o Real apresentou imensas dificuldade na construção, especialmente quando os portugueses avançavam suas linhas de marcação. Dessa forma, a equipe de Zidane se valeu quase que exclusivamente da movimentação em profundidade de Bale para rondar com perigo a área de Rui Patrício. Quando Isco ou Cristiano Ronaldo saiam do comando de ataque para auxiliar na circulação de bola, raramente alguém preenchia o espaço vazio, deixando inocupada a faixa entrelinhas do Sporting e, por conseguinte, impedindo a progressão merengue.

Por outro lado, a lenta transição defensiva do Real permitiu que os sportinguistas contra-golpeassem em bloco, sempre buscando o pivô de Dost e, principalmente, a amplitude do extremo direito Gelson Martins, que levou vantagem em praticamente todos confrontos de um contra um. Dos pés do jovem português surgiram as melhores ocasiões dos donos da casa, que, no primeiro tempo, quase marcaram em finalizações de Bruno César. A eficiência, entretanto, premiou os madrilenhos, que abriram o placar com Varane, aproveitando sobra de falta lateral cobrada por Luka Modric.

O segundo tempo apresentou um contexto diferente, devido à infantil expulsão de João Pereira, aos 19 minutos. Contudo, o que não mudou foi a incapacidade do Real, mesmo com um a mais, de controlar o jogo por meio da posse de bola. Se com Toni Kroos os comandados de Zidane já apresentavam problemas nesse quesito, sem ele a situação fica caótica, uma vez que Kovacic é mais vertical e muito menos controlador que o alemão. Dessa forma, os madrilenhos continuaram sofrendo com as escapadas rápidas do Sporting, que chegou ao empate em gol de pênalti convertido por Adrien Silva.

Se o Real tem uma grande virtude, esta é a verticalidade com que atua. Sempre que possível, a equipe aciona seus homens mais agudos em profundidade, especialmente Gareth Bale, que com terreno para correr é muito difícil de ser parado. Com a presença de Cristiano Ronaldo na referência do ataque, então, essa característica merengue se acentua, à medida que sempre se busca a jogada de flanco para depois centralizar a bola ao camisa 7.

Foi através dessa verticalidade que os madrilenhos conseguiram o gol da vitória contra o Sporting. Com espaço para conduzir a bola - resultado da pouca pressão que os portugueses poderiam exercer com um jogador a menos -, Sergio Ramos lançou da intermediária para Benzema, que se projetou excepcionalmente bem e desviou de cabeça. Gol à feição do estilo direto do Real, que com a vitória acumulou 30 jogos de invicibilidade, além de garantir vaga antecipada às oitavas de final da Champions.

É preciso ressaltar que não existe uma maneira correta de jogar futebol. Todos estilos são válidos e, em primeira instância, o que realmente importa são os resultados. Todavia, também é necessário constatar as fragilidades do jogo merengue, que poderá, mais adiante, sofrer pela ausência de retenção e controle da posse de bola, que se acentuou a partir da grave lesão de Kroos. Enquanto a eficência dos comandados de Zidane continuar rendendo resultados como os 3 a 0 do último final de semana, contra o Atlético, a paz continuará reinando em Madrid. Porém, pela qualidade técnica do elenco que possui, "Zizou" poderia inserir em sua equipe um futebol mais complexo e controlador, o qual, além do resultado, apresente um Real com maior domínio da partida.

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