Um resgate baseado no merecimento

Foto: AFP
Merecimento. Em quase toda coletiva de imprensa que concede, Tite bate nessa tecla. “Merecer vencer” é uma espécie de mantra para o treinador, e sua trajetória demonstra isso. Desde seu início humilde no Rio Grande do Sul, ele entendeu que o trabalho incansável seria o único meio que lhe daria condições de não apenas chegar aonde queria, mas merecer chegar aonde queria.

Com dois anos de atraso, a CBF finalmente colocou o melhor treinador do futebol brasileiro no lugar em que ele merece estar. A consequência da decisão tardia foi um pepino daqueles para Tite: 6º lugar nas Eliminatórias e duas pedreiras logo no início de trabalho. Contudo, quando há dedicação, estudo e humildade, o merecimento faz com que tarefas difíceis sejam plenamente realizadas.

Como há muito não víamos, o Brasil foi, em Quito e em Manaus, extremamente organizado e competitivo. Tite conseguiu inserir um padrão de jogo na seleção, e o pouco tempo de trabalho leva a crer que ainda haverá grande crescimento.
O 4-1-4-1 já tradicional do treinador mostrou-se muito eficiente e permitiu que os conceitos pregados pelo ex-técnico do Corinthians aflorassem em campo. Sem a bola, o Brasil teve linhas sempre muito próximas, o que permitiu que as marcações alta e baixa fossem realizadas com êxito. A pressão intensa no portador da bola talvez tenha sido a grande virtude da seleção, que, por consequência, teve o controle da partida contra a Colômbia, especialmente no primeiro tempo.

Com a redonda, o escrete canarinho teve muito jogo apoiado, o que gerou inúmeras triangulações. A movimentação de Neymar por dentro resultou em vários bons ataques da seleção, assim como as infiltrações de Paulinho e Renato Augusto, jogadores já habituados às ideias de Tite.
Neymar centralizado e com várias opções de passe: é o tal do "jogo apoiado".
Imagem: Painel Tático - globoesporte.com
Diante dos colombianos, o Brasil foi, de fato, o Brasil do Adenor, com jogo coletivo muito forte potencializando a qualidade individual dos atletas. Casemiro foi um monstro, com desarmes e coberturas implacáveis; Marcelo esbanjou a grande qualidade técnica de sempre, além de se esforçar bastante na marcação; Coutinho entrou muito bem novamente, criando espaços no ataque com sua verticalidade; e Neymar fez o que se espera dele: decidiu. Na verdade, toda equipe foi extremamente aplicada e, por isso, merece elogios.
É natural que a empolgação seja tremenda, já que o Brasil, além de mostrar um futebol muito consistente, pulou de um desagradável 6º lugar para a vice-liderança das Eliminatórias. Mas Tite sabe que ainda há muito a ser feito, e esse entendimento é fundamental. O resgate do futebol brasileiro é um processo longo e gradativo, que depende de uma série de fatores. Ao menos os prioritários - confiança e padrão de jogo - já estão de volta, e temos na casamata um treinador que merece ser o nosso “salva-vidas”.

Comentários

  1. Esperança de reviver o orgulho que velhas Seleções Brasileiras nos davam.

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