Alemanha e sua aula de propor o jogo
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Foto: globoesporte.com |
Após uma Eurocopa consistente, que só não terminou em mais um título pela efetividade da França de Griezmann na semi-final, a equipe de Joachim Löw estreou hoje nas Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia. Repetindo o modelo de jogo praticado na Euro de dois meses atrás, a Alemanha venceu a Noruega com autoridade: 3 a 0, na casa do adversário. Contudo, mais do que o placar, foi a organização e o controle do jogo por parte dos alemães que chamou a atenção.
Dentre as seleções que pretendem propor o jogo, a Alemanha de Löw é quem tem as melhores ideias. Existe um padrão muito bem definido: jogo apoiado, laterais avançados dando amplitude, quarteto de frente jogando por dentro e saída de jogo com três jogadores - Kroos se junta aos zagueiros para distribuir a bola com qualidade. O modo com que a equipe ocupa o campo do adversário não só cria espaços para os jogadores rodarem bem a bola como dificulta a saída do rival: ao perder o domínio da redonda, os alemães pressionam rápido e impedem o contra-ataque.
A qualidade do jogo praticado pelos alemães fica ainda mais evidente quando avaliamos os números da partida: Contra a Noruega, a Alemanha teve 68% de posse de bola, finalizou 19 vezes (10 ao gol), acertou 93% dos passes e cometeu apenas 5 faltas. Se isso não é controlar a partida, não sei o que mais pode ser.
É importante frisar que tudo isso é fruto de dois aspectos em especial: a continuidade do trabalho de Löw, que está há 10 anos no comando da seleção, e a inteligência tática dos atletas, resultado do trabalho de formação citado anteriormente.
A execução de um modelo de jogo com esse nível de organização só é possível com tempo de trabalho, algo que raramente vemos no futebol brasileiro, por exemplo. Após tanta repetição, os atletas sabem exatamente o que devem fazer dentro de campo, como se posicionar, para quem passar a bola, etc.: Löw praticamente não precisa gesticular ou berrar à beira do gramado.
Por outro lado, ter atletas com a qualidade técnica e capacidade de ler o jogo como a dos alemães facilita muito no processo. A inteligência e jogo com os pés de Neuer, por exemplo, permite que a seleção jogue bem avançada, uma vez que sabe que seu goleiro estará atento na cobertura de eventuais contra-ataques. Também poderia citar a precisão de Kroos, a visão de jogo de Özil, o faro artilheiro de Müller, mas aí eu iria longe.
Toda essa exuberância técnica e organizacional dá à seleção alemã o luxo de poder perder jogadores importantes sem que lacunas sejam abertas. Foi o que aconteceu com Lahm em 2014 e Schweinsteiger agora. É o que chamamos de legado: um trabalho bem conduzido faz com que a qualidade prospere e se renove constantemente, tornando um país que até pouco tempo era ridicularizado por jogar de maneira "bruta" uma referência de futebol bem jogado.
Por em prática um esquema inteligente e eficiente conseguindo fazer isto com naturalidade, não dá margem para falha.
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