Brasil 4 x 0 Dinamarca - Confiança, profundidade e aplicação

Crédito: Reuters
Após os decepcionantes empates diante de África do Sul e Iraque, a Seleção Olímpica tinha a obrigação de vencer a Dinamarca, nessa quarta, em Salvador, para seguir sonhando com a medalha de ouro. Como se não bastasse a vitória, os comandados de Rogério Micale fizeram mais. Em grande exibição individual e coletiva, golearam os dinamarqueses - até então invictos no ano - por inapeláveis 4 a 0 e apresentaram um futebol de intensidade que há muito não se via na Seleção Brasileira. Contudo, considerando que até a partida de ontem esta mesma seleção era alvo de críticas vorazes de grande parte da população e da imprensa, a questão que fica é: que motivos levaram o escrete canarinho a transformar seu desempenho da água para o vinho em tão pouco tempo?

A resposta da maioria dos brasileiros à essa questão provavelmente seria que ontem o Brasil jogou com vontade, o Neymar não foi fominha, etc. Mas será que foi só isso? Em um país que tem a tradição de simplificar todas as coisas, de criar heróis e vilões, eu me arrisco a dizer que a vitória brasileira passou por três fatores: confiança, profundidade e aplicação.

O fato de o confronto ter sido realizado em Salvador foi de uma sorte tremenda para a seleção. Se em outros estados do país a recepção provavelmente seria negativa, na capital baiana a equipe de Micale foi recebida de braços abertos. É claro que os dois gols já no primeiro tempo contribuíram para que o apoio do torcedor perdurasse os 90 minutos, mas há alguns dias atrás poucos imaginariam que na Fonte Nova se ouviriam gritos de "o campeão voltou" e aplausos entusiasmados para Renato Augusto. Isso - somado à quebra do jejum de gols - fez com que o jogo do Brasil fluísse muito mais naturalmente no decorrer da partida.

Confiança é primordial em qualquer esporte. Portanto, como esperar que um atleta de 19 ou 20 anos tente fazer algo diferente, arriscar um drible ou um chute a gol, quando um estádio lotado está vaiando freneticamente a sua própria equipe?

Sempre fui um crítico sagaz do tal "4-2-4" de que tanto se falou durante a preparação dessa Seleção Olímpica. No futebol moderno não existe mais a teoria de colocar quatro jogadores extremamente ofensivos e simplesmente esperar que eles resolvam as coisas. É preciso compactação, movimentos coordenados e o entendimento da função que cada um do quarteto deve exercer em campo - situações nas quais esse esquema de Micale vinha sendo falho. Nesse jogo contra a Dinamarca, porém, o Brasil teve uma exibição tática muito interessante, com trocas de posições constantes e jogadores buscando infiltrações no último terço do campo. É o que Douglas Santos e Gabriel Jesus cansaram de fazer para receber passes açucarados de Neymar nas costas da defesa dinamarquesa (origem de dois dos gols do Brasil). É o que se chama de profundidade.

Por último, a falta de gana, que muitos atentaram como o grande problema da Seleção, não se confirmou no gramado da Arena Fonte Nova. Pelo contrário, ver a aplicação de Gabriel Jesus - na teoria o jogador mais agudo da equipe - ao acompanhar a subida do lateral dinamarquês até o campo de defesa foi a prova concreta de que a molecada está comprometida com a causa. Para mim, inclusive, nunca houve duvida de que Jesus & cia. estão com muita vontade de conquistar o ouro. A questão aqui não é correr mais - é correr certo.

Olhando para os cruzamentos que se iniciam no sábado, e tomando como referência a atuação de ontem, o Brasil se coloca tranquilamente como um dos grandes favoritos ao ouro. Resta esperar que a postura do torcedor paulista (e mais adiante carioca, assim esperamos) seja acolhedora como a do baiano e que a Seleção tenha novamente confiança, profundidade e aplicação.





Comentários

  1. Avaliação com "profundidade" do que aconteceu. Boa referência para nos situarmos sobre a mudança da seleção neste jogo.

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