"Gol da Alemanha", por Axel Torres e André Schön
Sob recomendação do Leonardo Miranda, excelente analista tático do Globo Esporte (http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/painel-tatico/1.html), terminei de ler recentemente o livro que, no Brasil, ganhou o emblemático título de "Gol da Alemanha". Lançado pela editora Grande Área, a obra foi escrita pelo jornalista espanhol Axel Torres em parceria com seu professor de alemão, André Schön.
A partir de suas aulas em um café de Barcelona, os dois passaram, durante um ano e meio, a dissecar o processo evolutivo pelo qual o futebol alemão passou a partir de 2006, traçando um paralelo com o jogo pragmático desenvolvido por Franz Beckenbauer, Gerd Müller e companhia nos anos 70. É muito interessante observar como todo o processo está interligado e como vários treinadores, de Jürgen Klinsmann a Pep Guardiola, ajudaram a construir a seleção que assombrou o mundo naquela semi-final do Mineirão em 2014 e conquistou o tetracampeonato mundial no Brasil.
Klinsmann, grande responsável pelo início de todo esse processo e que levou uma seleção desacreditada ao 3º lugar na Copa do Mundo em seu país, é tratado aqui como um herói injustiçado. Isso porque, na Alemanha, muitos o acusam de ser nada mais do que um bom motivador, ignorando o fato de ele ter tido a audácia de romper com tudo que havia sido feito durante muitas décadas no seu país. Mais do que isso, ele criou os alicerces sobre os quais a seleção de 2014 se sustentou, lançando nomes como Phillip Lahm e Bastian Schweinsteiger, referências da equipe de Joachim Löw que veio ao Brasil.
A jornada de Axel e André visita vários nomes e conceitos que marcaram o futebol alemão ao longo dos anos. Fala-se muito sobre a posição de líbero, eternizada com Beckenbauer e revolucionada, 40 anos depois, por Manuel Neuer; sobre o alarde causado pela chegada da linha de 4 defensiva na Alemanha; sobre a resistência de grande parte do país aos conceitos modernos do jogo, entre outras questões muito interessantes.
No fim, acaba sendo inevitável traçar uma comparação com a situação da nossa seleção brasileira. Evidentemente são contextos completamente diferentes, já que aqui sempre formamos equipes com grande qualidade técnica, embora taticamente comuns. Contudo, o fato de termos decaído tanto no cenário mundial nos últimos tempos atenta para uma transformação semelhante à que a Alemanha passou, não só na seleção - a ponta do iceberg - mas também em questões estruturais e nas categorias de base, priorizando o desenvolvimento técnico e tático dos atletas. Além disso, a humildade de reconhecer as próprias fragilidades e a qualidade do que vem de fora também é fundamental. É o que Löw explica em dada parte do livro: "Quando começamos esse processo em 2006, com Klinsmann, queríamos abrir os olhos e observar o que estava acontecendo no mundo e que coisas poderíamos agregar ao estilo alemão de sempre para tentar melhorar."
É claro que o processo é longo e complexo, mas o livro deixa em aberto para nós, brasileiros, a questão: Poderia ser Tite o Klinsmann brasileiro?
Uma visão de longo prazo com uma sensibilidade crítica apurada e sensata, acredito, formaram este futebol diferenciado, mesmo não tendo adversários na copa 2014 em seus melhores momentos.
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