Brasil renovado, ofensivo e moderno de Micale sucumbe ao nervosismo na estreia nas Olimpíadas

Cercada de grande expectativa – seja por jogar em casa e buscar o inédito ouro olímpico, seja por apresentar em campo uma geração muito promissora – a seleção brasileira iniciou sua caminhada nos Jogos Olímpicos sendo a seleção brasileira dos últimos anos: decepcionante. Mas, desta vez, muito mais pela questão comportamental dos atletas do que por questões táticas e de modelo de jogo. Nervoso, o Brasil não conseguiu executar bem as ideias que, percebe-se, o técnico Rogério Micale tenta inserir na equipe. Pior do que isso, a fraca atuação de algumas referências técnicas da equipe – em especial Neymar, novamente de individualidade exacerbada – mostra que o treinador brasileiro terá muito trabalho pela frente para conquistar a medalha de ouro que, diga-se de passagem, parecia ser um sonho mais tranquilo de ser realizado até a partida de ontem.

Diante de uma África do Sul bem postada, com duas linhas de quatro e relativa boa qualidade técnica, o Brasil iniciou a partida já mostrando um dos conceitos de Micale: pressão intensa logo após perder a bola. Contudo, esse conceito ainda necessita de ajustes, como fica evidenciado quando observamos os grande buracos que a seleção cedia em sua defesa quando os africanos conseguiam sair com a bola trabalhada. Esses espaços quase complicaram o Brasil logo aos 2 minutos, quando Mothiba apareceu sozinho na cara do estreante Weverton.

Atualmente se fala, e cada vez deve se ouvir falar mais, em tática, estratégia e modelo de jogo como fatores determinantes no futebol. Contudo, a execução passa, exclusivamente, pelos jogadores. E quando eles não rendem o esperado, como foi o caso da seleção brasileira de ontem, fica complicado. A insistência de Neymar em prender excessivamente a bola atrapalha a fluidez do jogo e facilita a compactação do adversário. Renato Augusto e Felipe Anderson, fundamentais na construção de jogo do Brasil, erraram demais. Gabriel Jesus talvez seja um caso a ser tratado com mais carinho, uma vez que ele parece não ter se adaptado adequadamente a esse sistema ofensivo de intensa movimentação com Neymar e Gabigol. Porém, é imperdoável o gol perdido por ele no segundo tempo, quando o Brasil, com um a mais em campo, encontrou mais facilidade para penetrar na defesa africana. É difícil mensurar o quanto o nervosismo da estreia pode ter influenciado os jogadores brasileiros, mas é preciso uma melhora de desempenho de todos, e rapidamente.

Afora isso, já são perceptíveis várias das ideias de Rogério Micale. Sem a bola, o Brasil se posta num 4-1-4-1 bem adiantado, marcando o adversário sob pressão. Com a redonda, os laterais avançam e Renato Augusto se aproxima dos zagueiros para a saída de bola. Formam-se opções de triangulações com Douglas Santos, Renato e Neymar pela esquerda e Zeca, Felipe Anderson e Gabigol pela direita, com Thiago Maia dando opção para a inversão de lado. Gabriel Jesus flutua entre as linhas, e é a partir da melhora desse movimento, com maior troca de posição com seus companheiros de ataque, que o desempenho do garoto recém contratado pelo City deve crescer.

Considerando a qualidade do grupo de Micale – que ainda tem os excelentes Luan e Rafinha à disposição no banco, entre outros –, aliada aos próprios conceitos modernos do treinador, que chamaram a atenção da grande mídia durante os treinamentos na Granja Comary, não há dúvida de que o Brasil continua candidatíssimo à medalha de ouro. Porém, uma melhora precisa ser apresentada já no domingo, contra o Iraque. Resta esperar que o nervosismo da estreia fique para trás e que a seleção possa apresentar de maneira mais eficaz as boas ideias de seu treinador.

Comentários

  1. Bons comentários, expondo de forma técnica os problemas apresentados, o cenário e as possibilidades.

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