Ramiro e o Grêmio do jogo "entrelinhas"

Foto: Lucas Uebel/gremio.net

Das mudanças que Renato Portaluppi propôs após seu retorno ao comando técnico do Grêmio, em setembro de 2016, a inserção de Ramiro como extremo-direito foi, sem dúvida, a mais notável. Mesmo com sua polivalência, o ex-jogador do Juventude não havia conseguido se firmar no tricolor gaúcho até então, sofrendo com lesões e sendo um dos atletas mais criticados pelo torcedor gremista. Com Renato, Ramiro não só assumiu a titularidade como se tornou peça importantíssima no modelo de jogo da equipe gaúcha, sendo decisivo na campanha que culminou no pentacampeonato da Copa do Brasil.

Para 2017, era lógica sua manutenção na equipe titular. E Ramiro foi o jogador mais regular do Grêmio em um Campeonato Gaúcho de ajustes, com a chegada de alguns jogadores e a saída de outros. Nesse período, passou a realizar alguns movimentos que, aliados ao bom desempenho do experiente Léo Moura na lateral, tornaram o setor direito o principal ponto  de construção ofensiva do tricolor gaúcho. Após a lesão de Maicon, no entanto, Ramiro foi recuado para volante, reconfigurando a equipe, que teve momentos de instabilidade no mês de abril.

Mas chegou maio e, junto com ele, a ascensão do jovem Arthur, que assumiu a titularidade e fez Ramiro retornar à extrema-direita. Nada coincidentemente, o Grêmio engrenou. Porque Arthur passou a fazer a circulação de bola acontecer igual ou melhor do que acontecia com Maicon; porque Luan, livre da função de extrema, passou a atuar sempre centralizado e entrelinhas, onde mais gosta de jogar; e, principalmente, porque Ramiro voltou a fazer a função que lhe rendeu a titularidade, agora com assimilação de movimentos ainda maior, que em fase ofensiva dificultam muito a marcação do adversário.

Isso se repetiu na partida de volta contra o Fluminense, pelas oitavas de final da Copa do Brasil. Ainda que a expulsão prematura de Nogueira tenha tido grande influência, o Grêmio fez mais uma ótima partida. O jogo apoiado, com boa circulação de bola e muita movimentação do quarteto ofensivo, retornou a um nível comparável às finais do torneio do ano passado, quando o tricolor gaúcho teve grandes exibições contra Cruzeiro e Atlético-MG.

Os movimentos do Grêmio consistem na centralização do quarteto ofensivo, que, com a inteligência de Ramiro, Luan, Pedro Rocha e Barrios, busca o jogo entrelinhas e as triangulações a todo o momento, abrindo os lados para a passagem dos laterais. Com quatro jogadores por dentro, várias vezes encontra superioridade numérica e/ou espaços na faixa central do gramado, gerando indefinição na marcação. Foi o que aconteceu no primeiro gol contra o Flu, concluído com a estupenda finalização de Luan.

Perceba como os quatro jogadores mais "ofensivos"do Grêmio buscam triangular por dentro, abrindo os lados para os laterais, que dão bastante amplitude. Frame: Painel Tático/globoesporte.com

Os movimentos em si são importantes, mas dependem também de decisões rápidas e corretas dos jogadores, para não dar ao adversário tempo para fechar os espaços. Em todos esses quesitos, Ramiro, assim como Arthur e Luan, é perito. Com índices de passe que beiram quase sempre os 90% e aplicação tática para sempre fechar o lado do campo em fase defensiva, sua versatilidade ainda permite trocas de posições com Léo Moura, que inclusive já marcou gol atuando por dentro nesta temporada (contra o Zamora, pela Libertadores).

Naquelas definições clássicas de futebol, Ramiro poderia ser considerado o "motorzinho" do Grêmio. Talvez não tenha o mesmo protagonismo de Luan ou Barrios, mas é peça cada vez mais fundamental em uma equipe que, com a boa sequência de jogos e o retorno de atletas como Maicon, Bolaños e Douglas, é forte candidata a títulos nesta temporada.

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