O recomeço colorado
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| Foto: Félix Zucco/Agência RBS |
Enquanto o jurídico do clube trabalhava no muito comentado "caso Victor Ramos" - que, mesmo indo para a Corte Arbitral do Esporte, na Suiça, não resultou em punição ao Vitória -, Antônio Carlos Zago, contratado após excelente trabalho no Juventude, encontrou um time despedaçado, sem legado tático e com jogadores abalados psicologicamente. Isso de certa forma explica as dificuldades enfrentadas pelo Inter no início da temporada, em que teve atuações muito ruins e precisou de cinco jogos para vencer no Campeonato Gaúcho.
Aos poucos, porém, as coisas foram se encaixando. Com a chegada e a evolução dos bons reforços trazidos pela diretoria, o excelente momento do centroavante Brenner e a volta de William à equipe, Zago foi, progressivamente, encontrando uma ideia de time: trouxe Uendel para o meio-campo; definiu o posicionamento de D'alessandro, primeiro como uma espécie de regista, depois como meia que cai para os lados, gerando superioridade númerica; e achou certo equilíbrio com Edenílson, que veio por empréstimo do Genoa.
Essa evolução chegou ao seu melhor momento ontem, contra o Corinthians, pela Copa do Brasil. A exigência do confronto, que desde 2005 envolve uma rivalidade exacerbada, sem dúvida auxiliou no processo: o Inter foi um time intenso, vibrante e com bom nível de concentração para executar com êxito a proposta de marcação alta e recuperação de bola no campo adversário. Ofensivamente, produziu muito pelo lado direito, especialmente no 1º tempo, com triangulações entre Willian, Edenílson, Nico López e D'alessandro.
O argentino, aliás, é figura central em tudo que envolve o futebol colorado nos últimos tempos. Sua saída para o River Plate, no início de 2016, foi um dos erros no catastrófico planejamento da gestão passada. A liderança de D'ale é inegável, e um dos grandes desafios de Zago é justamente encaixar o jogador em um sistema que consiga o preservar fisicamente, sem que haja prejuízo defensivo para a equipe.
Essa questão ainda precisa de ajustes, porque o Inter atua em um 4-3-2-1 que em fase defensiva forma desenhos bastante incomuns, os quais, por vezes, sobrecarregam os volantes e laterais. Quando o colorado consegue "encaixotar" o adversário, seja em saída de bola deste, seja em pressão pós-perda, o problema está resolvido. Entretanto, à medida que D'alessandro e Nico López raramente recompõem pelos lados, quando se retrai a equipe tende a ficar em inferioridade numérica. Foi o que aconteceu na construção do gol do Corinthians:
Zago tem como característica não se prender a esquema algum. No atual momento do Inter, para enquadrar D'alessandro e Nico López, dois jogadores com grande qualidade técnica, mas que gostam de atuar pelo mesmo lado e que tem poucas afeições defensivas, o treinador tende a correr alguns riscos. Resta decidir se eles são válidos, e buscar soluções que residem, principalmente, em fazer com que um dos estrangeiros recomponha com mais frequência e aplicação. Do contrário, o Inter pode vir a sofrer muito defensivamente.
Afora isso, os últimos jogos demonstraram que o recomeço colorado está sendo bem feito. Há qualidade individual, ressaltada pelas boas contratações de jogadores como Víctor Cuesta, Edenílson e William Pottker (ainda por vir), e ofensivamente o Inter está encontrando o caminho, com saída de três, triangulações pelo lado e infiltrações. Para alcançar o principal objetivo da temporada, que é retornar à Série A, o colorado precisará se impor tecnicamente. E isso dependerá, acima de tudo, de encontrar o equilíbrio coletivo em uma equipe com grande potencial individual.


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